sexta-feira, 1 de março de 2013

Reportagem Público 28.Fev


Namoro numa cadeira de rodas também pode ser violento

Espectáculo de “Era uma vez ... teatro”, da Associação do Porto de Paralisia Cerebral, apresentado esta quinta-feira no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto
Texto de Ana Cristina Pereira • 28/02/2013 - 12:13
Violência no namoro entre pessoas com paralisia cerebral acentuada. Eis o mote da peça de teatro “Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”, construída a partir de poemas de Fernando Pessoa. Sobe esta quinta-feira, dia 28 de Fevereiro, — às 14h30 e às 21h30 — ao palco do auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

Há 15 anos que o grupo “Era uma vez ... teatro” daAssociação do Porto de Paralisia Cerebral mistura utentes e funcionários. Três manhãs e três tardes por semana, ensaios. Duas vezes por ano, uma estreia. Não para fazer terapia, mas para “sensibilizar a sociedade para as capacidades das pessoas com deficiência”.

“Olha-se para as pessoas com grande incapacidade motora como se não fossem mais nada. São mulheres e homens”, diz Mónica Cunha, animadora feita encenadora. “A pessoa, tendo ou não deficiência, tem valores, emoções, sentimentos”, resume Inês, uma das actrizes que se movem numa cadeira de rodas.

A deficiência e as relações amorosas
O preconceito pode ser profundo. Talvez comece logo na dificuldade de conceber a paixão ou o namoro entre pessoas com deficiência acentuada, como Inês, que precisa de ajuda para afazeres básicos como comer ou tomar banho. Até os familiares tendem a desincentivar ou proibir relações amorosas, observa Mónica Cunha.

Em Portugal, as organizações têm estado concentradas nas “questões mais básicas, como o direito a uma vida decente”, nota Fernando Fontes, professor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Ainda não chegaram à fase dos afectos, da intimidade. O mesmo se poderá dizer da investigação científica.

Será preciso ver o todo. Em 2011, as forças de segurança registaram 28.980 denúncias de violência doméstica. Segundo a Direcção-Geral da Administração Interna, em 42% havia crianças ou jovens a assistir. As crianças com deficiências, lembra, “não estão numa redoma”. Também assistem e também correm o risco de repetir.

O tema parece-lhes tão actual que recuperaram esta peça que estrearam em 2010. Foram muitos ensaios para que hoje esteja tudo a postos. Patrícia explica a motivação, através do sistema Bliss, uma tabela com um conjunto de signos gráficos que se podem combinar para formar palavras: gostar/amor; trabalho; dia/noite. “Quem gosta do que faz é capaz de trabalhar dia e noite”, traduz a terapeuta.

Namoro numa cadeira de rodas também pode ser violento

Espectáculo de “Era uma vez ... teatro”, da Associação do Porto de Paralisia Cerebral, apresentado esta quinta-feira no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto
Texto de Ana Cristina Pereira • 28/02/2013 - 12:13
Violência no namoro entre pessoas com paralisia cerebral acentuada. Eis o mote da peça de teatro “Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”, construída a partir de poemas de Fernando Pessoa. Sobe esta quinta-feira, dia 28 de Fevereiro, — às 14h30 e às 21h30 — ao palco do auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

Há 15 anos que o grupo “Era uma vez ... teatro” daAssociação do Porto de Paralisia Cerebral mistura utentes e funcionários. Três manhãs e três tardes por semana, ensaios. Duas vezes por ano, uma estreia. Não para fazer terapia, mas para “sensibilizar a sociedade para as capacidades das pessoas com deficiência”.

“Olha-se para as pessoas com grande incapacidade motora como se não fossem mais nada. São mulheres e homens”, diz Mónica Cunha, animadora feita encenadora. “A pessoa, tendo ou não deficiência, tem valores, emoções, sentimentos”, resume Inês, uma das actrizes que se movem numa cadeira de rodas.

A deficiência e as relações amorosas
O preconceito pode ser profundo. Talvez comece logo na dificuldade de conceber a paixão ou o namoro entre pessoas com deficiência acentuada, como Inês, que precisa de ajuda para afazeres básicos como comer ou tomar banho. Até os familiares tendem a desincentivar ou proibir relações amorosas, observa Mónica Cunha.

Em Portugal, as organizações têm estado concentradas nas “questões mais básicas, como o direito a uma vida decente”, nota Fernando Fontes, professor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Ainda não chegaram à fase dos afectos, da intimidade. O mesmo se poderá dizer da investigação científica.

Será preciso ver o todo. Em 2011, as forças de segurança registaram 28.980 denúncias de violência doméstica. Segundo a Direcção-Geral da Administração Interna, em 42% havia crianças ou jovens a assistir. As crianças com deficiências, lembra, “não estão numa redoma”. Também assistem e também correm o risco de repetir.

O tema parece-lhes tão actual que recuperaram esta peça que estrearam em 2010. Foram muitos ensaios para que hoje esteja tudo a postos. Patrícia explica a motivação, através do sistema Bliss, uma tabela com um conjunto de signos gráficos que se podem combinar para formar palavras: gostar/amor; trabalho; dia/noite. “Quem gosta do que faz é capaz de trabalhar dia e noite”, traduz a terapeuta.